Tecnologia, leis e sustentabilidade: como clínicas e hospitais buscam soluções para a gestão dos equipamentos eletrônicos obsoletos

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O acelerado desenvolvimento tecnológico da área da saúde faz com que hospitais e clínicas se deparem, de forma cada vez mais frequente, com a obsolescência de seus equipamentos médicos. O reflexo deste contexto é a crescente a demanda das áreas de engenharia clínica pela manutenção, reposição e consequente destinação de peças e equipamentos, por meio de processos que estejam em consonância com o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde de cada estabelecimento, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e as legislações ambientais brasileiras.

A atenção se dá por diferentes fatores: 

  • do ponto de vista ambiental, os equipamentos possuem componentes químicos tóxicos e até radioativos, que se  descartados incorretamente oferecem riscos e impactos adversos ao meio ambiente e à saúde da população.
  • Do ponto de vista clínico, aparelhos defasados podem comprometer a qualidade do trabalho médico e oferecer risco aos pacientes.
  • Sob a ótica da gestão das empresas, equipamentos obsoletos ou com tempo de uso acima do recomendado pelos fabricantes podem se transformar em prejuízos, acarretando desperdícios secundários como alto consumo de insumos, energia e manutenção.

Como hospitais podem fazer a gestão dos equipamentos obsoletos?

Em decorrência do tipo de material, o descarte de equipamentos hospitalares deve ser feito conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305/2010, a qual obriga as empresas e, no caso, hospitais, a destinarem de forma ambientalmente responsável seus resíduos. Componentes, por exemplo, costumam ter vida útil mais curta que a das máquinas completas e, mesmo com a manutenção frequente e substituição de partes, os equipamentos se tornam obsoletos em um determinado momento.

“A legislação não é restritiva e induz soluções gerenciais inteligentes, conforme o ciclo de vida das diferentes categorias, incluindo logística, recondicionamento, a manufatura reversa e a reciclagem”, explica Camila Mattana, head de ESG da BrasilReverso, empresa com histórico pioneiro na reciclagem de eletroeletrônicos no Brasil.

Responsabilidades compartilhadas com fabricantes: o exemplo da Phillips

Há alguns anos, multinacional holandesa tem o seu programa de sustentabilidade “Global EcoVision”, que inclui a economia circular de seus equipamentos. O transporte e a reciclagem são realizados por empresas homologadas pela Phillips que, de outro lado, oferece condições especiais de compra para seus clientes, a partir de critérios de similaridade entre o produto descartado e o novo equipamento. Outro fator fundamental para fabricantes na decisão pela implantação de sistemas de logística reversa e reciclagem realizada por empresas profissionalizadas, é a proteção de informações industriais e tecnológicas de sua produção, que são resguardadas ao ter o controle e tratamento de sua produção em obsolescência.

Instituições Públicas

Os gestores de instituições públicas de saúde, consideradas as maiores geradoras de REE (Resíduos Eletroeletrônicos), caminham lentamente para a implantação da logística reversa. A opção preferencial, hoje, ainda é o leilão dos equipamentos, que oferecem ganhos aquisitivos mínimos e acabam privilegiando iniciativas de reciclagem sem controle, padronização e garantias ambientais necessárias. “Na prática, mesmo quando os arrematantes assinam termos de responsabilização, a fiscalização reduzida dos procedimentos ou meios de descarte não permite às entidades e aos próprios governos  identificar se a gestão dos equipamentos é, de fato adequada, ou até mesmo ilícita”, explica Camila Mattana.

Cenário atual

Hospitais e clínicas são, em geral, empresas atualizadas às demandas da sociedade e por isso estão alinhadas às questões ambientais. “A logística reversa de equipamentos médicos e hospitalares vêm, de forma geral, crescendo nas instituições hospitalares e uma parte deste o mercado, ainda que menor, já possui fluxos organizados para o processo de desfazimento* dos equipamentos”, avalia Fábio Souza, Diretor Comercial da BrasilReverso.

Segundo ele, a gestão ambiental e econômica dos equipamentos obsoletos, já considerados resíduos, tem vantagens clara para as empresas, como a revalorização econômica dos componentes, a adequação legal que garante segurança jurídica e evita punições, além do fortalecimento da imagem ambientalmente responsável ao garantir a máxima recuperação dos recursos naturais, evitar poluição e contaminações do meio ambiente e desenvolverem uma economia circular e sustentável

Como deve ser feito o descarte de equipamentos médicos

O processo de descarte de equipamentos médicos inicia-se com a coleta do equipamento, movimentação, transporte e a armazenagem.

Após a etapa de liberação documental e a depender do contrato estabelecido, no processo de triagem é avaliado se o equipamento deve ir para refurbished (recuperação e recondicionamento de equipamentos e peças) ou se será destinado para a descaracterização (desmontagem técnica) e reciclagem. No processo de reciclagem os equipamentos serão desmontados e segregados por tipo, plástico, material ferroso ou não ferroso  e se tornarão nova matéria-prima para a fabricação de novos produtos eletrônicos.

“Os equipamentos eletrônicos são compostos por diversos materiais que podem ser reintroduzidos na cadeia produtiva, evitando que mais recursos naturais sejam extraídos. Mesmo quando o produto já está obsoleto e não pode ser utilizado, seus componentes reciclados podem fornecer diversos metais e plásticos para reuso consciente”, alerta Camila Mattana, da BrasilReverso.