Seria tão óbvio pensar assim, mas muitos fabricantes ainda não pensam, por Camila Mattana.

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Quando passei a ter autonomia para comprar os bens de consumo, comecei a me questionar sobre o porque eu compraria da marca X e não da marca Y. Lembro ainda, que quando tive o desejo de começar a trabalhar, fazia isso por algo, e não pelo simples fato de receber um salário. E não era só eu que pensava assim.

O que parecia um movimento de ”mimimi” e passageiro para muita gente de gerações passadas, passou a criar modelos de negócios criativos e alinhados aos stakeholders, e ao mesmo tempo, foi o suficiente para influenciar o fluxo do capital nas principais bolsas mundiais. Isso é um breve resumo do que entendo hoje como a origem do ESG no mundo.

Acredito não ser necessário um grande esforço para entender os benefícios de imagem e posicionamento das empresas ao incorporar uma pauta ESG estruturada, mas quero provocar uma reflexão um pouco mais profunda sobre as oportunidades para seu modelo de negócio.

Nós temos hoje na mão, um grande instrumento de pesquisa e desenvolvimento e que praticamente poucas empresas usam: a ferramenta ”ACV” – Avaliação do Ciclo de Vida ou Análise do Ciclo de Vida de todo produto, considerando seu berço ao túmulo. É uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os impactos potenciais (positivos e negativos) ao longo da vida de um produto ou serviço, desde a extração da matéria-prima até a destinação final. Ela pode ser aplicada com diversas finalidades. Isso porque a maneira como os produtos são projetados e fabricados atualmente causa impacto direto no setor da reciclagem. Eu já vi aqui na BrasilReverso, de forma bem resumida e simples, carcaças de algum equipamento eletrônico, constituído por algum tipo de plástico nobre, tendo que ser incinerada porque tinha uma camada de tinta um tanto estranha, que tornava impossível qualquer método de reciclagem, entre muitos outros exemplos de grande escalas, que inviabilizam o reparo ou reciclagem, para promover sempre de venda de um produto novo.

Eu penso, que um problema base para o mercado da reciclagem, por exemplo, ainda é problema que vem do berço. As empresas querem falar de ESG, e de como se tornar mais ecologicamente sustentável, mas nem se quer separam o próprio lixo reciclável do orgânico dentro de seus escritórios. Como educar e incentivar assim? E falando de processo produtivo e de resíduos, quero pontuar aqui ao menos uma pauta importantíssima e que quase não é discutida.

E ai vem o termo ESG, onde, empresas de diversos setores, estão enfrentando pressão de investidores, clientes, funcionários e outras partes interessadas para que melhorem seu desempenho, e ninguém olha para isso. Defendem a criação de mecanismos que permitam fortalecer o processo de coleta e reaproveitamento de materiais, mas não pensam em ‘’ converter benefícios que sejam positivos para toda a cadeia, como é o caso que citei acima da pintura em carcaça de eletrônico, e isso é apenas a ponta do iceberg. Seria tão óbvio, que os designs de produtos fossem realmente aprovados para serem aceitos na reciclagem. Mas e quem irá prever esse tipo de situação? E como será passível de ser regulamentado o redesign dos produtos?

“Não é falta de vontade destas empresas”, entendo também, que ainda tudo é um tanto novo. E que temos outros problemas como a logística de reaproveitamento, e temáticas das linhas refurbushied.

Mas sabemos que as medidas atuais são insuficientes há muito tempo. Temos mais de 10 anos de Política Nacional dos Resíduos Sólidos. E há a necessidade de complementar com outras iniciativas. Não existe uma única solução. “Não são soluções simples de implementar, concordo, mas é preciso sair da inércia e começar já, só assim teremos indicadores globais. Isso é ESG na prática.

Autor:

Camila Mattana Bugarim – HEAD em Sustentabilidade | ESG | Engajamento | Comunicação Ambiental | Produtora de conteúdos | GRI | TCFD | ODS